Thiago da Costa Moura, mais conhecido como Gagui IDV, nasceu em 5 de dezembro de 1981, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Cresceu em meio a desafios pessoais que moldaram sua visão de mundo e sua relação com a arte. Órfão de mãe aos três anos de idade, foi criado por sua tia, funcionária de uma biblioteca estadual. Entre estantes repletas de livros, descobriu cedo o poder da palavra escrita: aprendeu a ler antes mesmo de frequentar a escola, hábito que se tornaria fundamental em sua trajetória.
O primeiro contato de Gagui com o universo Hip Hop aconteceu em 1994, aos doze anos, quando um vizinho o apresentou ao trabalho de Gabriel o Pensador. A partir dali, começou a gravar em fitas cassete os programas de rap transmitidos pelas rádios locais. O gesto simples de arquivar músicas em fitas tornou-se um ritual que atravessou décadas – até hoje, guarda gravações com quase trinta anos de história.
O incentivo para escrever veio logo depois, pelas mãos de Anjo, integrante do grupo TWN Rappers, o primeiro artista de Hip Hop que conheceu pessoalmente em Pelotas. O encontro serviu de gatilho para que, em 1998, formasse seu primeiro grupo: Ideologia de Vida (IDV), ao lado de PC e Jeison. O trio lançou o disco Vamos Além, mas Gagui considera que sua estreia oficial como artista solo veio apenas em 2005, com o álbum Alforria.
Mais do que MC, Gagui foi sempre um agitador cultural. Criou fanzines, organizou festas, eventos, oficinas de Hip Hop e palestras, além de ter sido apresentador e produtor de podcasts. Entre suas passagens mais marcantes, destaca-se sua atuação como uma das vozes do programa Comunidade Hip Hop, transmitido na rádio 104.5 FM de Pelotas. Durante seis anos, dividiu microfones com Jair Brown e MC Makabra em um dos programas mais longevos da cena, que permaneceu no ar por mais de duas décadas.
Sua inquietação criativa o levou a buscar novos caminhos. Em 2012, idealizou um portal de Hip Hop na internet. O projeto não se concretizou, mas rendeu dezenas de entrevistas com artistas do rap nacional, realizadas por e-mail. Ao perceber a riqueza desse material, decidiu não deixá-lo se perder. Em 2016, reuniu as conversas no blog Resenha do Rap, que um ano depois deu origem ao seu primeiro livro, Resenha do Rap Vol. I, publicado pela editora Bradamante do Leão Sanguiné.
A tiragem inicial foi de apenas 100 cópias, todas rapidamente esgotadas. O sucesso espontâneo mostrou que havia espaço para uma literatura nascida de dentro do Hip Hop, feita por quem vive a cultura.
O projeto ganhou força com o lançamento de Resenha do Rap Vol. II, publicado pela Editora Dando a Letra, fundada por Gagui em parceria com Jeff Ferreira (Jaguariúna, SP) e Paulo Brazil (Salvador, BA). Dedicada exclusivamente à literatura ligada ao Hip Hop, a editora tornou-se um espaço para registrar vozes e histórias que, de outra forma, permaneceriam à margem.
O Vol. II traz 156 páginas de entrevistas com figuras centrais da cultura Hip Hop, entre elas nomes como Amarelo, DJ Anderson, Negra Jaque, P.MC, Paulo Brown, Pok Sombra, Renan Inquérito, X (Câmbio Negro), Xará e o lendário DJ Afrika Bambaataa. O livro ganhou prefácio de Paulo Brazil e epílogo de Jeff Ferreira, selando a importância coletiva do projeto.
Para Gagui, escrever é uma forma de preservar a memória do movimento. Sua preocupação é garantir que as novas gerações conheçam as raízes do rap e compreendam a trajetória de quem pavimentou esse caminho. Seu lema é claro: “Nada é mais interessante e valioso do que se a gente contar nossa história.”
Entre rimas, livros e oficinas, Gagui construiu uma identidade marcada pela resistência e pelo conhecimento. Ele se enxerga como parte de uma “geração intermediária”: nem da velha escola, nem da nova geração, mas um elo entre ambas. Embora não tenha mais pretensão de se apresentar em shows, segue gravando músicas em estúdio e compartilhando online. Em seus planos, está o relançamento de Alforria, agora com participações especiais – incluindo seu filho Lucas – e músicas inéditas. Também projeta um EP solo e novos livros, como a coletânea Contos da Quebrada, ambientada em Pelotas, além de um romance em construção.
Sua escrita foge da rigidez acadêmica. Prefere um estilo de conversa direta, como se cada entrevista fosse uma roda de diálogo com o leitor. Essa escolha não é casual: para ele, o conhecimento deve circular de forma viva e acessível, sem barreiras.
A paixão de Gagui pela cultura não se restringe ao Hip Hop. Leitor voraz, devora desde jornais e revistas até biografias de figuras como Mussum e Geraldo Vandré, além de livros sobre o universo carcerário. Também é amante de cinema, principalmente produções que retratam periferia, prisões e conflitos urbanos – temas que dialogam com sua própria experiência de vida.
A publicação de seus livros com recursos próprios – financiados, inclusive, com dinheiro de sua rescisão de contrato de trabalho – revela sua independência e determinação. Esse gesto inspirou outros membros da cena, que veem em Gagui um exemplo de resistência e autossuficiência.
Com reconhecimento que ultrapassa fronteiras, seu trabalho já despertou interesse em países como Angola e Portugal, confirmando a universalidade de sua mensagem.
A história de Gagui IDV é a história de alguém que nunca se conformou em ser apenas espectador. Ele viveu, registrou e ajudou a moldar a cultura Hip Hop de Pelotas e do Brasil. Sua trajetória mostra que o rap não é apenas música: é literatura, memória, identidade e, acima de tudo, ideologia de vida.
Entrevista com o rapper Gagui IDV Lançamento do livro Resenha do RAP
Canal Outras Vozes
Bate-papo Literário com o rapper e escritor Gagui IDV (Resenha do RAP)
Canal Sujeito Literário
Entrevista com Gagui Idv - Rapper e Pesquisador da cultura Hip Hop
Canal Papai Pod?
Entrevista com o rapper Gagui IDV Lançamento do livro Resenha do RAP
Canal Fio da Navalha Arte & Comunicação
Episódio 09 | Da Guedes
Episódio 08 | Júlia Nogueira
Episódio 07 | WKennedy e Fagundes
Episódio 06 | Jair Brown
Episódio 05 | Guido CNR
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